agarra o agora

Lifestyle # O livro da vida

17.8.18


Hoje levantei-me e a fraqueza ficou para trás perdida nas lutas perdidas, envolta nas lágrimas roubadas, no passado que me foi roubado e ao qual entreguei de mãos abertas.
Coloquei os pés no chão e senti a dor do peso do sofrimento, dos momentos de escuridão, mas levantei-me certa de que esse peso já não cabia em mim, já não me pertencia, já não fazia parte do meu corpo e muito menos da minha alma. 
Olhei para aqueles dois rostos nascidos de mim, ensonados mas cheios de amor, de esperança, de vida. O que seria deles sem mim? O que seria de mim sem eles? Eu sou eles, eles são parte de mim! Por mim tudo, por eles mais ainda.
Por muito tempo fui tudo aquilo que pude, hoje descobri que podia ser mais, muito mais. Por muito tempo fui o que os outros quiseram que eu fosse, como se o corpo fosse meu mas a alma era algo que desconhecia, que não me pertencia, construída ao gosto de cada um, moldada pelas mãos de quem me tocava. 
Construí um novo eu, um novo ser que foi feito para agradar, para sorrir e principalmente para calar. Sufoco? Inacção? Como vos conheço, foram meus companheiros diários, meus gritos de silêncio, sem som, sem voz, ausência de qualquer ruído.
São esses rostos de amor, de esperança, de vida, que me preenchem a alma, me devolvem  cada poro do meu corpo, cada brilho do meu olhar. Foram eles que me salvaram deste mundo que eu tão bem conhecia, e que me acorrentou como correntes de aço, que me prenderam a algo que eu não queria e que tanto me queria.
Hoje quero acordar, quero acordar a cada dia e respirar um novo mundo, construído por mim, moldado por eles, só por eles. Não quero calar a minha voz, não quero viver o meu silêncio.
Estive perdida … mas encontrei o meu caminho, sem mapas, sem GPS, sem indicações, sem ouvir, aliás hoje já nem quero ouvir, não quero escutar mais palavras que são meros ruídos, não quero saber opiniões. 
Opiniões? Eu não pedi nada pois não? Então fica com elas, guarda-as para ti, para os teus erros, um dia quando os reconheceres. 
Olha-te ao espelho e pergunta-te quem és? Será que sabes quem és? Ou até mesmo quem foste? E sabes quem serás? Reflecte um pouco e pensa nisso, antes de falares de mim, antes de me apontares os dedos, pois os dedos são teus eu sou apenas o reflexo dos teus erros, daquilo que não conseguiste ser.
Hoje eu sei quem sou, o que fui e o que serei. Sou tudo aquilo que nunca pensei. Uma força da natureza que se soltou das garras da vida, do mundo que a rodeava. 
Um dia disseram-me que eu era uma guerreira, uma valete, destemida e lutadora. Sorri forçadamente pois por dentro sabia que não era eu, quando me olhava no espelho não era essa a imagem que transmitia, que despertava. Hoje sei que estava lá, escondidinha naquela pequena molécula de vida que me pertencia e que eu teimava em desconhecer, em não ouvir.
Quem fui? Fui algo, fui uma soma, fui um espaço que se ocupou, fui uma sombra, fui corpo. Nem sei ao certo o que fui! E sabes que mais? Não quero saber, fui o passado que já passou e que já não posso mudar. Dizem que o passado serve para aprender, que são memórias que não se devem apagar. Porquê? Porquê que tenho de fazer o que acham que está certo se não está certo para mim? Não te oiço mais lembras-te?
Sabes o que é passado? Um tempo que já findou! Então se acabou porque tens de voltar atrás? Não tiveste já lá? O caminho não é em frente? Então segue a tua história mas tem o cuidado de mudar o teu texto. Isto é o que fui, um texto numa página da história.
O que serei? Hoje e amanhã sei que serei tudo aquilo que quiser, tudo aquilo que a cada dia irei descobrir de cada parte de mim. Serei tudo aquilo que não fui, que escondi, serei a verdade, a força e a vida. Serei as garras de um leão que mesmo na multidão não teme, não fraqueja que mesmo na multidão grita, corre e luta com todas as suas forças sem medos, sem receios.
Serei o sorriso de cada minuto que me percorre, de cada hora que me consome, serei o olhar de cada nascer do sol, de cada dia de esperança, de cada noite de mistério e de conquista. Serei a alma, o corpo, serei mais do que um espaço, serei o espaço, serei mais do que uma sombra, serei aquela sombra.  
If you could see me now, não verias mais a sombra, o silêncio, mas sim o grito da liberdade, do amor, da vida. 
Já não procures aquele rosto, ele já não faz parte desta história. Muda a página, escreve um novo texto e aí encontrarás o meu sorriso.”

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